Doenças e Parasitoses:

Os peixes coexistem com parasitas e patógenos na natureza, em equilíbrio.
Alterações ambientais como queda dos teores de oxigênio dissolvido (OD), aumento de gás carbônico (CO2), amônia (NH3) e nitrito (NO2), altas estocagens e níveis de arraçoamento, remoção e reestocagem podem causar estresse, redução da resistência, ferimentos e facilitar o desenvolvimento de enfermidades.
O ambiente aquático pode ser contaminado via água de abastecimento, introdução de peixes selvagens, cobras, tartarugas, caramujos, sapos e rãs, aves piscívoras, rações, equipamentos contaminados, etc...
Quadro clínico de infecções por bactérias (Bac), fungos (Fun), vírus (Vir), parasitas (Par) e por deficiência nutricionais (Nut):

Bactérias

Aeromonas hydrophila e Pseudomonas fluorescens

Encontradas no solo e em águas naturais, sua incidência pode aumentar e causar problemas a peixes mal nutridos e com injúrias físicas decorrentes de despesca e transporte.
Tanques com alta carga de material orgânico e com água de má qualidade facilitam sua ocorrência que pode aumentar nos períodos de primavera e outono.
O peixe perde o apetite, reduz a atividade, apresenta natação vagarosa e tende a se posicionar nas áreas mais rasas do tanque; apresenta erosão nas nadadeiras, lesões circulares ou irregulares do tipo úlceras pelo corpo, hemorragia nas bordas das lesões e na base das nadadeiras, olhos saltados de aspecto opaco e hemorrágico, abdômen distendido e presença de fluído opaco ou ligeiramente sanguinolento na cavidade abdominal, fluído amarelado ou sanguinolento no intestino, hemorragia nos órgãos internos como o fígado, hiperplasia (aumento do tamanho) de órgãos como o fígado, baço e rins; fígado de coloração pálida ou ligeiramente esverdeada e pontos hemorrágicos na parede interna da cavidade abdominal.

Flexibacter columnaris

Causadora da Columnariose ou doença da boca de algodão ou da cauda comida, como é popularmente conhecida, esta bactéria coabita os sistemas aquáticos, normalmente em equilíbrio, até ao momento em que, ou por má nutrição, ou por má qualidade da água ou mau manuseio, ela se manifesta instalando-se em lesões causadas por ferimentos ou por parasitas. Lesões nas brânquias, causadas por parasitas ou por turbidez mineral da água, por entrada de enxurrada nos tanques, são causa desta doença. A transmissão ocorre de peixe para peixe facilitada com o aumento da densidade de estocagem, da temperatura e das injurias físicas.

Streptococcus sp

Várias espécies deste gênero foram identificadas como causadores de septicemia (infecção generalizada acompanhada de quadro hemorrágico) em diversos peixes. Estes passam a apresentar uma pigmentação bastante escura e corpo levemente curvado. Os movimentos ficam letárgicos e geralmente nadam num padrão espiralado. Os olhos podem apresentar cataratas e hemorragias, estando invariavelmente saltados.

Fungos

Saprolegnia parasítica é um dos fungos causadores da infecção pode ser identificado por seu crescimento micelial branco ou cinza claro com aspecto de algodão.
Fungos podem também ocorre em ovos, larvas, alevinos além peixes adultos.
Nutrição inadequada e injúrias físicas propiciam a infestação. Transporte e manejo de espécies tropicais como as tilápias, pacus, tambaquis e tucunarés, entre outras, sob condições de baixa temperatura de inverno e de início de primavera podem favorecer as infestações.
A doença se manifesta inicialmente com despigmentação de áreas na pele dos peixes seguida da multiplicação e elongação das hifas (filamentos) formando os típicos “tufos de algodão”. Peixes mortos devem ser retirados dos tanques.

Protozoários

Ichthyophthirius mutifilis
Doença conhecida como “Doença dos Pontos Brancos” ou Ictio, se caracteriza pela presença de pontos brancos visíveis a olho nu, espalhados pelo corpo, principalmente sobre as nadadeiras. A irritação e o prurido causados pela instalação do protozoário sob a pele, faz com que o peixe apresente excessiva produção de muco e fique se raspando no substrato, em plantas e outros objetos presentes nos tanques.
O parasita normalmente se instala nas brânquias dificultando a respiração, a excreção nitrogenada e a osmorregulação dos peixes.
Seu ciclo de vida é dependente das condições de temperatura da água: se a 10 ° C, completa seu ciclo de vida em 35 dias; entre 20 e 23 ° C requer 3 a 4 dias e a 27 °C, em 2 dias.
Outros protozoários parasitas como o Epistylis, a Ambiphtya, a Trichodinas e o Trichophrya, também se fixam ao peixe na pele, nadadeiras e brânquias e se alimentam filtrando o material orgânico na água.
Quanto maior o acúmulo de resíduos orgânicos nos tanques de produção, maior a população destes parasitos, que, embora não causem sérios danos aos peixes, abrem caminho para infecções secundárias por bactérias e fungos.

Trematodos

Os trematodos monogênicos fixam-se ao hospedeiro através de aparelhos de fixação (haptores) com ganchos ou ventosas.
O Gyrodactylus é normalmente encontrado no corpo e nadadeiras, não possui olhos e se prende por um par de ganchos longos rodeados por 16 menores e apresentam um embrião em desenvolvimento dentro do individuo adulto.
O Dactiylogylus apresenta 4 manchas oculares, um par de ganchos pequenos e 14 menores marginais e liberam ovos.
É encontrado nas brânquias de carpas e peixe dourado principalmente.
O Cleidodiscus, outro membro da família, é encontrado em brânquias de inúmeros peixes e ovos podem ser vistos dentro de indivíduos adultos.
Os Trematodos Digêneos, formam um grupo de parasitos com aspecto similar a pequenos vermes, normalmente encontrados na forma de cistos na pele, órgãos internos, como o fígado, e nos olhos dos peixes. Raramente prejudicam o crescimento e a reprodução ou causa mortandade de peixes.
Seu ciclo de vida esta relacionado a 2 ou mais hospedeiros sendo peixes e molusculos hospedeiros intermediários enquanto as aves servem como hospedeiros definitivos, onde o parasita completa seu ciclo reprodutivo. Fezes com os ovos deste parasita são excretados pelas aves na água reinfestando o ambiente.

Crustáceos

O Argulus é um dos parasitas mais encontrados em todo o mundo e comumente conhecido como “Piolho de Peixe”.
Cerca de 100 espécies foram identificadas e parecem ser importantes vetores de doenças virais e bacterianas. Apresentam corpo achatado e oval, se fixam na pele e nas nadadeiras através de ventosas e se alimentam dos fluidos dos peixes.

O Ergasilus sp. é outro microcrustáceo freqüentemente encontrado nas brânquias dos peixes, sendo denominado por isso por “larvas das brânquias”.
Ocasionalmente podem aparecer no epitélio bucal dos peixes. Os peixes podem apresentar sintomas de asfixia mesmo sob condições de oxigênio dissolvido adequadas.
As Lernaea, especialmente a Lernaea cyprinacea , a mais comum de todas, se fixa ao peixe com auxílio de ganchos especiais com formato de âncora localizados na cabeça do parasita que penetra na musculatura do peixe e deixando a região caudal para fora com o formato de um verme.
Quando a infestação ocorre na cabeça os parasitas podem atacar o próprio cérebro e órgãos como o fígado, coração, baço, etc, são atacados quando a infestação ocorre na região abdominal.
Causam severa anemia e mortandade aos alevinos e não raro a peixes adultos.
O peixe desenvolve uma forte reação à penetração do parasita o que lhe confere mau aspecto, bastante inflamado, apresentando uma lesão avermelhada e escurecida, onde infecções secundárias por fungos, bactérias e vírus se desenvolvem provocando a morte massiva de peixes.
As fêmeas desenvolvem 2 bolsas de ovos que produzem 500 a 700 náuplios que se desenvolvem em formas jovens chamadas de copepoditos.
Estes têm que encontrar hospedeiros em 3 dias caso contrário não sobrevivem.
A Lernaea pode ser facilmente propagada com a introdução no tanque de um peixe portador de fêmeas adultas; água de transporte pode introduzir náuplios e copepoditos; pássaros transitando de um tanque a outro podem carrega-los também em suas penas e pés; sapos e rãs podem ser portadores destes parasitas, adultos ou jovens; equipamentos contaminados como redes, puçás, roupas de borracha, tanques de transporte, entre outros, pode explicar o aparecimento da Lernaea em locais onde não existia.
As fêmeas adultas fixadas na musculatura do peixe são mais resistentes que as formas jovens do estágio larval podendo ser eliminadas com aplicações repetidas do inseticida.

Vermes

Vermes parasitos incluem inúmeros representantes das classes Cestoda (lombrigas), Nematoda (vermes arredondados) e Acantocephala (vermes de cabeça espinhosa), bem como da classe Hirundinea (sanguessugas).
Normalmente estes vermes usam os peixes como hospedeiros intermediários e estes se ingeridos crus podem representar risco à saúde humana.
As sanguessugas proliferam rapidamente em águas e sedimentos com material orgânico.

Formas de Tratamento

As formas de tratamento mais empregadas são:
Aplicação do terapêutico diretamente nos locais de infecção; evite contato direto dos produtos com as brânquias.
Injeção: principalmente de antibióticos em peixes de grande valor, como reprodutores, peixes ornamentais, etc..
Ração Medicada: geralmente com antibióticos
Banhos Rápidos: consiste na exposição dos peixes a uma elevada concentração do terapêutico porém de curta duração (segundos a minutos)
Banhos prolongados ou fluxo contínuo: os peixes são submetidos a uma baixa concentração do terapêutico por períodos mais longos (minutos a horas)
Tratamento por tempo indefinido: os peixes ficam expostos a uma baixa concentração terapêutica por tempo indeterminado. Esta forma de tratamento é bastante empregada em tanques e viveiros de maiores dimensões.

Tratamento da Lerneose e Argulose:

Os tratamentos existentes para a lerneose e argulose são bastante eficazes, tanto para o combate do parasita adulto como para formas intermediárias do ciclo de vida. Recomendamos, inicialmente, a remoção manual dos parasitas adultos com um auxílio de uma pinça.

O gotejamento de uma solução hipersalina de cloreto de sódio sobre os parasitas facilita a remoção.
Não recomendamos o tratamento em aquário hospital e sim diretamente no aquário, ou lago ornamental.
Isto, porque é necessário combater tanto a forma de vida parasitária, como as formas de vida livre. Se não respeitar estas recomendações é muito provável que possa ocorrer no futuro uma reinfestação dos peixes.
Os medicamentos para o combate da lerneose e a argulose na maioria são administrados na forma de banhos de imersão.

Existem importantes marcas disponíveis no mercado que possuem ectoparasiticidas para uso específico em peixes ornamentais,
Entre os princípios ativos largamente utilizados estão o diflubenzuron e alguns organofosforados como o Trichlorfon e Malation.

Conhecida como "Doença do Neon". (Pleistophora Hyphessobryconis).

A chamada Doença do Neon Tetra ou Pleistophora é causada por um parasita esporozoário e, apesar do nome, não afeta somente os neons.
Ataca a maioria da família dos tetras, ciclídeos como os Bandeiras, ciprinídeos como as Rásboras e Barbos e até mesmo os Kinguios.
É uma doença conhecida por sua rápida infestação e alta taxa de mortalidade, é causada pelo parasita Pleistophora hyphessobryconis e até hoje não se conhece uma cura para ela.
O ciclo da doença começa quando os esporos do parasita entram no peixe hospedeiro após o mesmo ter consumido alimento infectado como partes de um peixe morto ou alimento vivo.
Uma vez dentro do peixe, o parasita se instala no trato intestinal, os embriões recém eclodidos dos esporos atravessam a parede do intestino e se instalam nos tecidos musculares produzindo cistos. Esses músculos que abrigam os cistos começam a morrer e o tecido necrosado se torna pálido, eventualmente ficando branco, o que explica a mancha clara característica nos animais infectados.

Alguns sintomas:
•Agitação;
•O peixe começa a perder a coloração;
•O peixe apresenta dificuldade para nadar;
•Em casos avançados a espinha dorsal do peixe pode se tornar curvada;
•Podem aparecer infecções secundárias como nadadeiras roídas e bloat;
•Conforme o cisto se desenvolve o corpo pode apresentar várias deformidades (pequenas massas sólidas, irregularidades);

Durante os estágios iniciais o único sintoma pode ser a agitação, principalmente durante a noite, é comum também o peixe infectado se separar do cardume. Eventualmente a natação se torna mais errática (irregular) e se torna bem óbvio que o peixe não está bem.
Conforme a doença progride, os tecidos musculares afetados começam a se tornar brancos, geralmente começando pelos músculos das áreas entre a faixa neon e a espinha dorsal. Quanto mais tecido muscular infectado maior é a mancha de coloração pálida. Os danos aos músculos podem causar a curvatura ou deformação da espinha, o que causa danos à natação. Não é incomum o peixe apresentar o corpo irregular causado pela deformidade dos músculos afetados pelos cistos.
Nadadeiras roídas, especialmente a caudal também não é incomum, entretanto, isso ocorre devido às infecções secundárias e não pelo resultado direto da própria doença causada pelo parasita. O bloat também pode ocorrer e é outro sintoma causado por infecções secundárias.
Qualquer peixe que apresente estes sintomas deve ser separado dos demais, sendo colocado em um aquário hospital para melhor observação já que existem outras doenças, causadas por bactérias, que podem apresentar sintomas semelhantes e possuem cura. Casos como estes inclusive podem dar uma falsa idéia de que o peixe tinha a doença do neon e foi curado, quando na verdade era uma bacteriose que ao ser tratada com algum antibiótico foi eliminada.
Como ainda não foi encontrada uma cura para esta doença, a prevenção é o melhor remédio! Não compre peixes de tanques que possuam outros peixes doentes ou mortos e peixes que não cardumeiam também são suspeitos. Além disso faça uma quarentena de peixes novos de 2 semanas e mantenha uma ótima qualidade da água para evitar qualquer queda no sistema imunológico dos peixes.
Já foram encontrados relatos de que o uso de remédios específicos contra protozoários, tais como Protozin, ajudaram a aliviar os sintomas da doença e que o uso de ácido Nalidixico – normalmente usado para tratar doenças causadas por organismos gram-negativos – também aliviou os sintomas da doença. Em ambos os casos, não houve nenhuma comprovação científica de que o tratamento realmente funciona e apenas se fala em aliviar sintomas, nenhuma cura foi documentada cientificamente ainda. (04/10/2008)